SMP
SANTAS MISSÕES POPULARES EM IPORÃ DO OESTE
- Observações preliminares
Se nos colocamos na perspectiva histórica para encontrar as razões das SMP nesta Paróquia, preciso colocar-me na base ou na raiz do fato. Cheguei na Paróquia de Iporã do Oeste em janeiro de 2.007. O Pároco anterior foi o Pe. Alfredo Engel e o Vigário Paroquial era o Pe. Lothário Thiel. O Pe. Alfredo foi então transferido para Guaraciaba.
Até que tomei pé no local, procurando conhecer a paróquia em sua realidade e na sua geografia, foi passando o ano de 2.007. Ao iniciar o ano de 2.008 já fui notando algumas coisas práticas. Havia uma grande vontade e disposição religiosa na comunidade da matriz. E a cultura religiosa do povo era de um grande desejo de realidades e práticas novas ou diferentes. Percebi um potencial imenso e bonito na identidade do povo. Submerso sobre as cinzas estava aflorando um anseio de avançar; uma sede de conhecer e buscar práticas novas e mais adequadas aos desejos e expectativas. Vez por outra, vinha à lembrança a memória histórica das Missões tradicionais. Fui verificar datas e indicações no “Livro Tombo”, nas marcas das cruzes de missão e principalmente no diálogo com a secretária paroquial Lenirce e outras pessoas. Tudo indicava que as últimas Missões foram realizadas no ano de 1997. Busquei sondar a memória popular e percebi um quase sentimento de uma espécie de frustração. Não aflorava nenhum tipo de entusiasmo em relação àquela Missão.
Recorrendo à minha própria memória de padre diocesano, percebi que no grande movimento das Santas Missões Populares realizado em toda a diocese, esta paróquia estava ausente. O movimento das SMP começou no ano 2.000, assumido pelos padres em todas as paróquias da diocese. E até o ano 2.003 ou 2.004, todas as Paróquias passaram por algum tipo de processo para a realização das SMP. A fala daqui era de que não se fizera aqui nenhum movimento neste sentido. De vez em quando, o Pe. Lothário e eu conversávamos sobre isso. Aos poucos ficou realmente evidente que a Paróquia de Iporã do Oeste não havia feito as SMP. A partir desta certeza, o diálogo entre o Pe. Lothário, a Lenirce e eu, foi afunilando em cima deste assunto. Entre nós se firmava a idéia de começar a desenvolver o processo.
Começamos a “rebubinar” alguns filmes das Santas Missões Populares realizadas nas paróquias onde havíamos atuado antes. Retomamos novamente em nossas mãos os livros do Pe. Luis Mosconi. Ali estava o fundamento e muitas dicas práticas de como encaminhar o processo. Igualmente conversávamos sobre as resistências e dificuldades que iríamos ter que enfrentar. Muitas incógnitas e inseguranças pairavam no ar! Porém, se vislumbravam também luzes e situações bonitas que nos animavam. A curiosidade das lideranças foi o primeiro sinal positivo que deu para perceber. Sempre que se tocava no assunto em reuniões de lideranças, aflorava o desejo de saber alguma coisa a mais sobre este processo!
A convicção de buscarmos a realização do projeto amadureceu rapidamente. Desordenadamente se falava, questionando nossos recursos para o projeto, uma vez que a Paróquia não estava tão bem economicamente! Outras vezes, na equipe aprofundávamos as questões da organização e da execução! Os recursos humanos também eram escassos e frágeis! Afinal, permaneceu a certeza de que deveríamos realizar as Santas Missões Populares em Iporã do Oeste. Em nossas conversas informais o assunto ia se tornando mai firme.
Deixamos de nos preocupar sobre as questões anteriores, ignorando o “por quê” da não realização das SMP, justamente porque esse assunto não nos ajudaria em nada. Com profunda fé na dimensão Missionária dos batizados, nos lançamos a detalhar para nós mesmos o projeto das SMP. O Espírito Santo sempre nos acompanhou nesta busca. Hoje tenho a certeza de que as muitas conversas que fizemos na equipe paroquial e o engajamento de mais pessoas no processo, foram decisões muito acertadas e que enriqueceram em muito, tudo aquilo que realizamos.
O ano de 2.008 foi um ano decisivo e historicamente marcado com a decisão e o encaminhamento das Santas Missões Populares. Muitas leituras, pequenas e profundas conversas nas “entre-linhas”, experiências vividas anteriormente, avaliações de outros processos, busca de indicações em outras paróquias, tudo isso foi realizado como que “na surdina” e no silêncio do Espírito Santo que nos guiava! O indicativo que nos animava era a grande disponibilidade e desejo do povo que esperava com ansiedade algo diferente e mais adequado na sua religiosidade e espiritualidade marcada culturalmente por uma prática religiosa que ansiava por um aprofundamento.
- As primeiras visualizações na equipe paroquial
Sabíamos que precisava um bom tempo para a DIVULGAÇÃO. Mesmo porque esta divulgação tinha a função de “confrontar” positivamente as MISSÕES TRADICIONAIS, com este método novo e diferente, das SMP. Foi por aí que sentimos o maior impacto.
O entusiasmo pelas Missões sempre foi muito forte desde que eu mesmo me reconheço como cristão e como padre! Ao falar das Missões, o inconsciente coletivo religioso espera sempre uma situação legal e bonita! Algo que chama atenção e entusiasma as pessoas! Recordações positivas estavam no consciente histórico do povo da paróquia.
Era consenso entre nós que estes dados positivos nós não poderíamos perder. Na realidade, a Missão tinha que engatar exatamente por aí. Não poderíamos perder este lado bom e positivo. A nossa preocupação foi redobrada e o nosso olhar se fixava nas indicações que vinham das pessoas.
A grande diferença estava nos MISSIONÁRIOS E MISSIONÁRIAS. Não estava, e nem está muito presente que, pessoas da própria comunidade pudessem ser missionários e missionárias. A figura do “missionário” era lendária e bem determinada na memória e no visual das pessoas. Esta “desmistificação” da figura do missionário tradicional, foi o que , na realidade levou mais tempo! Era necessário e indispensável enfrentar e clarear esta diferença.
Uma segunda dificuldade enfrentada foi uma espécie de “descrença” na própria maneira de realizar o processo. Como vamos iniciar isso? Quem vai fazer as coisas? Alguém sabe como realizar as Santas Missões Populares? Quando é que vai começar? O que vai ser feito? Entre as poucas pessoas da equipe da paróquia, porém, começava a se clarear o processo! Faz parte da primeira etapa das SMP o MÉTODO de não dizer tudo o que vai acontecer e nem quando irá terminar. Parecia a muitas pessoas, que nem o padre e nem as pessoas da equipe paroquial estavam sabendo o “COMO FAZER”! Uma sensação estranha e intrigante parecia estar no fundo dos sentimentos das pessoas: “como fazer uma coisa que nem se sabe como começar e muito menos, sem saber como terminar”?
Acostumados a tantos planejamentos, a cronogramas fixados com muita antecedência, ao estabelecimento dos eventos principais, parecia que tudo isso precisava estar muito “claramente” fixado e posto no papel.
A nossa consciência foi paulatinamente se treinando para ESCUTAR PRINCIPALMENTE O ESPÍRITO SANTO! Isso estava “valendo” também para a equipe paroquial! É claro que entre nós, as coisas estavam ficando mais evidenciadas. Além do tempo de divulgação estávamos traçando três grandes ETAPAS: primeira etapa, a ABERTURA com uma CELEBRAÇÃO oficial; junto com a abertura está a coisa mais significativa das SMP, que é a VISITAÇÃO ÀS FAMÍLIAS E A BÊNÇÃO NAS CASAS. Uma SEGUNDA ETAPA se configurava com um tempo de RECONCILIAÇÃO. E a TERCEIRA ETAPA se caracterizava pela RENOVAÇÃO E RECEBIMENTO dos Sacramentos da Igreja. A montagem e o aperfeiçoamento de cada uma destas etapas, não foi pré-estabelecido! Deixamos, de propósito, um grande espaço, seja de tempo, como também de INSPIRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO. Um espaço de permanente acompanhamento e AVALIAÇÃO das reações do povo; e um grande espaço para a criatividade que vinha do Espírito Santo e das experiências que estavam acontecendo.
Uma das decisões que mais bem fizeram em todo o processo foi à decisão de realizar uma GRANDE, BONITA E SOLENE CELEBRAÇÃO DE ABERTURA EM CADA COMUNDADE. Assim, cada comunidade pôde perceber o valor do projeto das SMP; pôde perceber também a ESPIRITUALIDADE que estava por dentro do processo. Grandes e bonitas experiências desta etapa, certamente cada comunidade poderá descrever.
Quando em outras experiências das SMP realizaram apenas uma grande celebração na paróquia, a celebração de abertura em cada comunidade APROXIMOU muito mais as pessoas e mostrou com mais clareza e profundidade o sentido e os objetivos da missão. O objetivo eminente da Missão sempre foi AVIVAR A FÉ na vida dos cristãos. Esta celebração de abertura trouxe este sentido para BEM PERTO de cada família nas comunidades.
Por opção da equipe de coordenação decidimos encaminhar as outras etapas da mesma forma: UMA CELEBRAÇÃO BONITA E BEM PARTICIPATIVA em cada comunidade! E assim foi preparado e encaminhado.
- PASSOS INICIAIS
Falava-se entre nós da equipe paroquial, que precisávamos abrir a perspectiva e dialogar com mais pessoas para poder deslanchar um processo mais amplo. Veio à necessidade de termos uma COORDENAÇÃO para todo o trabalho. Os primeiros nomes foram surgindo espontaneamente entre as lideranças mais próximas da matriz. Atácia, Rosali, Zenilde, Ivo, Célia, Vítor e Marlei, Tiago; além das pessoas de casa: Lenirce, (Mariane, mais tarde), Elci, Alcido e Lotário. Reunimos muitas vezes este grupo para conseguir visualizar um pouco melhor o que tínhamos em mente. As primeiras conversas eram imprecisas e até inseguras. Mas nunca foram de desanimar! Sabíamos que uma grande expectativa estava dentro deste plano. A pergunta sempre voltava à tona: por onde vamos começar? Mal se estava sabendo que ASSIM MESMO ESTÁVAMOS JÁ COMEÇANDO! Entre os próprios membros da coordenação as coisas não estavam claras. – “Mas… como será isso?…”. O próprio padre também dizia: “Não sei”! “Vamos ter que descobrir”… E assim fomos adiante. A cada pouco um passo a mais; a cada pouco uma idéia boa a mais!
Era preciso traçar os objetivos principais e pensar um cronograma básico inicial; pensar em alguns eventos para marcar o início da divulgação e deslanchar o processo. Como organizar a fase da DIVULGAÇÃO? O que vem primeiro? E como “dar corpo” a tudo o que se tinha em mente? De modo vago e geral se falava que o OBJETIVO bem amplo de todo o processo das Santas Missões Populares era o de “SOPRAR AS CINZAS QUE SE ACUMULARAM SOBRE A NOSSA FÉ”. Estas palavras começavam a ganhar força e se falava em muitas ocasiões sobre o sentido que isso teria para todos os batizados. Por isso, o OBJETIVO DAS SMP não escapava do desejo de animar a fé em todos os cristãos batizados. Mas como conseguir isso? O que precisaríamos encaminhar para DIVULGAR a idéia e fazer com que esse objetivo ganhasse corpo?
Começaram a borbulhar as idéias: Fazer um cartaz, um painel que visualizasse essa realidade. Jesus Cristo como figura central; depois, a Palavra de Deus; vinha à mente “um caminho… uma estrada…”. Depois veio a idéia da luz. Apareceu também a proposta de escolher UM LEMA que marcasse todo o projeto. Qual seria este lema?
Para que tudo isso chegasse às comunidades, era preciso envolver pessoas de cada comunidade. Assim, surgiu a bonita proposta de “criar” uma equipe ampliada, com a participação de uma pessoa de cada comunidade. Logo em seguida esta equipe foi chamada de COORDENAÇÃO AMPLIADA. A COORDENAÇÃO GERAL se reuniu, na seqüência, com esta coordenação ampliada. Ali se conversou sobre um possível jeito de divulgação e encaminhamento para desencadear o processo.
Os padres se encarregaram de “colecionar” uma série de textos bíblicos que pudessem servir para um lema geral para as Missões. O Padre. Alcido apresentou, numa destas reuniões, uma coletânea de umas 20 frases que pudessem motivar para o que tínhamos em mente realizar. Mais para uma DIVULGAÇÃO CONSTANTE e forte.
Todas as reuniões que fazíamos, sempre tinham um tempo especial e bastante forte que era de oração e meditação. Quando foi para decidir o lema, isto foi numa noite muito bonita e forte, com uma sensibilidade e experiência do Espírito Santo muito palpável. Uma meditação e cantos ao Espírito Santo, depois de termos examinado todas as frases e dialogado sobre elas, a escolha veio cair na frase que dizia: – “COLOQUEI VOCÊ COMO LUZ PARA AS NAÇÕES”! A partir daí começamos a “enriquecer” a frase com situações que significavam a compreensão melhor e o rumo da divulgação mais ampla. O tema central parecia que era a LUZ. Além de “clarear” a luz também trazia uma motivação para ajudar a “aquecer”! Tinha a idéia de “ajuntar-se ao redor da Luz”… espírito de encontro familiar…, um perto do outro… diálogo, oração, alimentação. Afinal, família unida e reunida em torno da luz!
O LAMPIÃO DA FÉ
Luz de lampião que não se apaga,
Testemunha fiel de muita fé e muita reza!
Teimosa chama que resiste ao tempo.
Murmúrios cansados de rezas ofegantes
Garantem presença de Deus que cuida,
Na luz da chama que não se cansa
De sustentar a fé que aí se revela.
Noites cansadas de reza no colo da mãe
Ou nos braços exaustos do pai.
De joelhos, às vezes, no duro chão
Após um longo dia de trabalho
Que parecia durar um tempo sem fim.
Rezas que pareciam intermináveis
Na luz cambaleante deste velho lampião!
Única coisa que parecia não dormir,
E ficava rapidamente sempre menor
Nos olhos que fechavam cansados.
Um se aquietava no sono sagrado,
Outro resmungava as Ave Marias...
O “puchador” do terço, atento velava
E aos “cotucões” passava a liderança.
Cada um tinha a sua parte marcada
Preciso era de ficar muito atento!
Só o lampião ficava firme e aceso
Garantindo o objetivo final: a cama.
Na luz escurecida deste lampião sagrado
A chama da fé nunca foi apagada.
E a claridade que faltava por fora
Acendia a chama da fé por dentro!
A luz da fé penetra o tempo da história,
Perpassa épocas garantindo passagem
A novos tempos recriados no Espírito.
Não se apagará a chama do pavio
Que ainda arde no coração da gente!
Novos tempos para recriar novas luzes
Nos corações de novas gerações ardentes.
Convocados pelo batismo de cristãos
Somos chamados como luz para as nações!
Deus jamais deixará “que se apague
A chama do pavio que ainda fumega”.
Fotos